8.2.12




Escrevo-te a sentir tudo isto

escrevo-te a sentir tudo isto
    e num instante de maior lucidez poderia ser o rio
    as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos nos sais de prata da
fotografia
    poderia erguer-me como o castanheiro dos contos sussurrados junto
ao fogo
    e deambular trémulo com as aves
    ou acompanhar a sulfúrica borboleta revelando-se na saliva dos lábios
    poderia imitar aquele pastor
    ou confundir-me com o sonho de cidade que a pouco e pouco morde a
sua imobilidade

    habito neste país de água por engano
    são-me necessárias imagens radiografias de ossos
    rostos desfocados
    mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
    repara
    nada mais possuo
    a não ser este recado que hoje segue manchado de finos bagos de romã
    repara
    como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar
 


Al Berto

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